Na Globo desde 1971, a carioca foi a primeira repórter a entrar ao vivo e em cores no Jornal Nacional; apresentou o Fantástico e o Globo Repórter
Por g1
A jornalista Glória Maria, ícone
da TV brasileira, morreu aos 73 anos no Rio de Janeiro nesta quinta-feira (2).
“É com muita tristeza que anunciamos a morte de nossa colega, a jornalista
Glória Maria”, informou a TV Globo, em nota.
Em 2019, Glória foi diagnosticada
com um câncer de pulmão e fez um bem-sucedido tratamento com imunoterapia.
Tempos depois, ocorreu metástase no cérebro, e a jornalista teve de passar por
cirurgia, que também teve êxito.
“Em meados do ano passado, Glória
Maria começou uma nova fase do tratamento para combater novas metástases
cerebrais que, infelizmente, deixou de fazer efeito nos últimos dias, e Glória
morreu esta manhã, no Hospital Copa Star, na Zona Sul do Rio”, afirma o
comunicado da emissora.
Glória foi pioneira inúmeras
vezes. Ela foi a primeira a entrar ao vivo e em cores no Jornal Nacional,
mostrou mais de 100 países em suas reportagens e protagonizou momentos
históricos. Antes disso, já havia sido a primeira repórter a aparecer na TV --
antes, os repórteres não eram vistos no vídeo.
Esse pioneirismo é reconhecido
como inspiração para mais de uma geração de mulheres negras. “Eu sou uma pessoa
movida pela curiosidade e pelo susto. Se eu parar para pensar racionalmente,
não faço nada. Tenho que perder a racionalidade para ir, deixar a curiosidade e
o medo me levarem, que aí eu faço qualquer coisa", disse sobre seu
trabalho.
Glória Maria deixa duas filhas:
Maria, de 15 anos, e Laura, de 14, adotadas pela jornalista em 2009.
Vida e carreira
Glória Maria Matta da Silva
nasceu no Rio de Janeiro, em 15 de agosto de 1949. Filha do alfaiate Cosme
Braga da Silva e da dona de casa Edna Alves Matta, estudou em colégios públicos
e sempre se destacou. "Aprendi inglês, francês, latim e vencia todos os
concursos de redação da escola", lembrou em entrevista ao Memória Globo.
Glória também chegou a conciliar
os estudos na faculdade de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica
(PUC-Rio) com o emprego de telefonista da Embratel.
Em 1970, foi levada por uma amiga
para ser radioescuta da Globo do Rio. Naquele tempo sem internet, ela descobria
o que acontecia na cidade ouvindo as frequências de rádio da polícia e fazendo
rondas ao telefone, ligando para batalhões e delegacias.
Na Globo, tornou-se repórter numa
época em que os jornalistas ainda não apareciam no vídeo. A estreia como
repórter foi em 1971, na cobertura do desabamento do Elevado Paulo de Frontin,
no Rio de Janeiro. “Quem me ensinou tudo, a segurar o microfone, a falar, foi o
Orlando Moreira, o primeiro repórter cinematográfico com quem trabalhei”.
Glória Maria trabalhou no Jornal
Hoje, no RJTV e no Bom Dia Rio. Coube a ela a primeira reportagem do matinal
local, há 40 anos, sobre a febre das corridas de rua. No Jornal Nacional, foi a
primeira repórter a aparecer ao vivo. Cobriu a posse de Jimmy Carter em
Washington e, no Brasil, durante o período militar, entrevistou chefes de
Estado, como o ex-presidente João Baptista Figueiredo.
“Foi quando ele (João Figueiredo)
fez aquele discurso ‘eu prendo e arrebento’ – para defender a abertura (1979).
Na hora, o filme (para fazer a gravação da entrevista) acabou e não tínhamos
conseguido gravar", lembrava ela.
"Aí eu pedi: ‘Presidente, é
a TV Globo, o Jornal Nacional, será que o senhor poderia repetir?'. 'Problema
seu, eu não vou repetir’, disse Figueiredo. O ex-presidente dizia para a
segurança: ‘Não deixa aquela neguinha chegar perto de mim'."
Sucesso no Fantástico
A partir de 1986, a jornalista
integrou a equipe do Fantástico, do qual foi apresentadora de 1998 a 2007.
Ficou conhecida pelas matérias especiais e viagens a lugares exóticos, e por
entrevistar celebridades como Michael Jackson, Harrison Ford, Nicole Kidman,
Leonardo Di Caprio e Madonna.
Com a cantora, Glória teve um
encontro que definiu como especial. “Eu saí daqui, e diziam que a Madonna era
difícil. Foi antipaticíssima com a Marília Gabriela e debochou do seu inglês”.
Ao chegar, Glória Maria foi informada de que tinha quatro minutos para
entrevistar Madonna.
A repórter contou que entrou em
pânico. Mas, na hora, falou: “Olha, Madonna, eu tenho quatro minutos, vou errar
no inglês, estou assustada, acho que já perdi os quatro minutos.” Para sua
surpresa, a estrela virou-se para a equipe técnica e disse: “Dê a ela o tempo
que ela precisar.”
A jornalista cobriu a guerra das
Malvinas (1982), a invasão da embaixada brasileira do Peru por um grupo
terrorista (1996), os Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo na
França (1998).