As discussões do Banco Central em
relação ao sistema atual de financiamento por cartão de crédito – que permite
aos correntistas parcelar compras em mais de 10 vezes sem juros – e de medidas
para mudarem a modalidade, estão trazendo apreensão ao setor do comércio.
A redução de parcelas pode
impactar no poder de compra dos consumidores e, consequentemente, no desempenho
do setor varejista. Já em relação ao rotativo, mudanças nas taxas de juros, que
hoje podem superar 1.000%, são bem-vistas.
Entidades representativas do
comércio vêm estudando as possíveis mudanças, porque, atualmente, o pagamento
parcelado em cartão de crédito sem juros é a principal forma de negociação no
varejo.
Mudanças no parcelamento podem
prejudicar tanto os consumidores, quanto os comerciantes, principalmente os de
menor poder aquisitivo. O economista da Fecomércio, Gilson Machado, explica que
a possibilidade de mudança repentina no cartão de crédito, modalidade criada na
década de 1990, levanta questionamentos.
Segundo Machado, ações que causem
restrição do parcelamento ou desestimulem as compras parceladas vão influenciar
de forma negativa no poder de compra do consumidor e gerar reflexos adversos
diretos sobre o setor varejista, repercutindo por toda a cadeia econômica.
A mudança no número de parcelas
permitidas não é apoiada pela entidade. Na visão do economista, seria
interessante haver modificações nas taxas de juros do crédito rotativo, que
estão em patamares que dificultam o cumprimento das obrigações por parte dos
consumidores, gerando um ciclo negativo.
O estudo da Fecomércio mostrou
que as taxas de juros no crédito rotativo para cartões de crédito pré-fixados
entre diferentes instituições, podem ultrapassar 1.000% ao ano.
Movimentação dos cartões de crédito
O economista da Fecomércio,
Gilson Machado, explica que nos últimos anos, houve um aumento expressivo na
emissão de cartões de crédito, porém o nível de ativação se manteve. As
emissões saíram de 184 milhões em 2018, antes da pandemia, para atuais 431
milhões em 2022. No mesmo intervalo, as ativações saíram de 54% para 48%.
O estudo também mostrou aumento
nas transações feitas pelo cartão de crédito. Segundo os dados da pesquisa, o
volume de transações realizadas por meio do cartão de crédito, em 2022, cresceu
65% frente a 2019, quando se iniciou a pandemia, chegando a 4,39 bilhões de
transações. Frente a 2021, a alta ficou em 16%.
Quanto ao padrão de uso,
parcelamentos, o mesmo se manteve praticamente inalterado desde 2011. Os
pagamentos parcelados em sete ou mais vezes, apresentaram pequena variação
saindo de 1,7% em 2011 para 1,4% em 2022.
Já os pagamentos em uma parcela,
saíram de 78,3% em 2011 para atuais 87,2% em 2022. Analisando os parcelamentos
por valor, a pesquisa mostrou que, nos últimos anos, a representação das
transações em 2 e 3 parcelas, bem como em 4 a 6 parcelas, diminuiu, atingindo
17,6% e 14% em 2022, respectivamente, ante 23,3% e 17,9% em 2011.
Mas, quando se olha o movimento
crescente na emissão de cartões de crédito e no número de transações – o que
significa que houve um aumento do volume de crédito disponível no mercado – o
endividamento das famílias pode ser ampliado.(fonte: Jornal do Comércio)