Morreu nessa quinta-feira (24),
aos 66 anos, José Adilson Rodrigues, o Maguila, um dos maiores expoentes do
boxe brasileiro. O Brasil se acostumou a torcer por ele dentro dos ringues e a
admirá-lo também fora deles.
"A gente tem que chegar lá
em cima tranquilo. Se a gente tiver nervoso, apanha, se não tiver, apanha
também. Então tem que está tranquilo para brigar", disse Maguila.
Maguila nasceu em Aracaju (SE) em
1958. Ainda criança, se apaixonou pelo boxe, inspirado por lendas da época,
como o brasileiro Éder Jofre e o americano Muhammad Ali. Na adolescência, se
mudou para São Paulo.
"Vim para São Paulo, em
Aracaju não tinha. E aqui aprendi a profissão de pedreiro, era servente de
pedreiro, e comecei a procurar academia (de boxe). Mas não foi para fugir de
nada, foi o que eu sempre quis, inclusive, sou apaixonado pelo boxe”, contou.
A primeira luta da carreira de
Maguila aconteceu em 1981, em um tradicional torneio amador de São Paulo. Mas
foi no Ginásio do Ibirapuera que ele viveu alguns dos momentos mais
emblemáticos da carreira.
Dois anos depois, lá ele se
tornou campeão brasileiro. E, em 1987, derrotou o norte-americano James
"Quebra-Ossos" Smith, em um dos duelos mais memoráveis do pugilista.
Ele conquistou diversos títulos internacionais e foi inspiração para gerações
de pugilistas.
"Maguila, para mim, sempre
foi uma referência de superação. Nordestino, sergipano, que me deu muita
esperança de que um pobre e nordestino pode sim”, afirma Popó, tetracampeão
mundial de boxe.
"Sempre muito aguerrido,
usava muito bem seus golpes retos. Então, foi um grande ícone para mim”, diz
Robson Conceição, campeão olímpico de boxe em 2016.
Maguila disputou 85 lutas com 77
vitórias, sendo 61 por nocaute, sete derrotas e um empate técnico. A rápida
ascensão o levou a desafiar lendas do boxe mundial, como os americanos Evander
Holyfield e George Foreman. O brasileiro perdeu as duas lutas, mas se lembrava
delas com bom humor.
"O mais forte que eu lutei
foi o velho, George Foreman. Bate no velho e parece uma parede, batia e
voltava, parecia que estava batendo em borracha”, contou.
Em 2010, Maguila foi
diagnosticado, inicialmente, com a doença de Alzheimer. Três anos mais tarde,
foi constatado que se tratava de encefalopatia traumática crônica, uma doença
irreversível causada por traumas na cabeça.
"É uma doença que foi
inicialmente descrita em pugilistas, em 1928. Mas, na verdade, os conhecimentos
mais refinados começam na década de 1970 e, principalmente, depois dos anos
2000, quando começam a encontrar essa mesma síndrome não só em pugilistas, mas
em outros esportes ou em outras atividades. É uma condição da doença você ter
traumas repetidos na cabeça”, explica o neurologista Renato Anginah.
Em 2018, com o consentimento da
família, o ex-boxeador aceitou doar seu cérebro para pesquisas científicas após
sua morte, assim como outro ídolo dele: Éder Jofre, que também recebeu o mesmo
diagnóstico e morreu em 2022.
Maguila encerrou a carreira em
2000, aos 42 anos. Além do boxe, ele se aventurou como comentarista de economia
popular na televisão e até cantor.